sábado, 21 de janeiro de 2012

A DOR DA IMPOTÊNCIA

Hoje queria falar sobre uma dor muito doída que faz arder meu coração não é de hoje. A dor da Impotência! A dor de ter Humanidade! Aqui na internet, pelas redes sociais, tenho tido a oportunidade de encontrar algumas pessoas que conviveram comigo há muito tempo atrás. Elas me procuram pela rede e querem conversar comigo, lembrar os velhos tempos, dizer o quanto representei na vida delas. É incrível saber disso... É alentador... Ajuda a ver que, de alguma forma pudemos ser referência na vida de alguém! Realmente, durante uns 18 anos, mais especificamente de 1984 até 2002, muitas pessoas conviveram comigo, viveram comigo no mesmo ambiente. Explico, durante esse tempo várias famílias moraram na minha casa. Servíamos como uma expécie de lar substituto, um albergue para pessoas que estavam com problemas para se manter. Como nossa casa era grande, tinha dois andares, podíamos fazer isso. Por lá passaram vários tipos de pessoas, com suas dificuldades e sofrimentos. O bom dessa experiência, foi ter convivido com todo tipo de dor e problema, podendo conhecer o drama de tantas pessoas a partir de seus paradigmas de vida e aprender com isso. O ruim era a dor e tristeza da perda! Lembro-me de muitas vezes ter me sensibilizado e vertido lágrimas de preocupação quando qualquer uma dessas pessoas iam embora, saindo de perto de nossa proteção. Grande pretensão a nossa! Era o que acreditávamos, que podíamos ajudar as pessoas a ter outra vida... Mas aí vieram as limitações, as decepções, os obstáculos. Me lembro de um dos meninos da comunidade, o Gustavo, um menino vivo, alegre e muito levado. Gustavo foi um dos que me causou uma das maiores dores que já senti. Era negro, filho de mãe solteira, que todos na comunidade diziam que era prostituta, porque tinha tido filhos com dois homens diferentes e não era casada com nenhum. Ele era o mais velho e pelo que na época observava, ela não tinha simpatia por ele, parecia que o culpava por sua condição humilhante de mãe solteira, apontada por todos. Pobre mulher! E pobre Gustavo! Eu me apaixonei por aquele menino, tão perdido e confuso diante do ambiente que vivia de exploração, pobreza e violência. Quantas e quantas vezes Gustavo fugia de casa e vinha se esconder em nosso quintal. E quantas vezes acarinhei sua cabeça dando conselhos que hoje sei ele não conseguia compreender. Foram alguns anos de convivência, até que Gustavo se envolveu com o tráfico de drogas. A melhor forma de ter dinheiro, poder e força... Um belo dia, estava eu voltando do trabalho e recebi a notícia. Gustavo tinha sido assassinado. Queima de arquivo! Chorei muito pela dor de sua perda! Lembro dele todas as vezes que escuto ou vejo pessoas criminalizando e violentando os pobres! Lembro dele quando alguém morre assassinado pela polícia ou pelos traficantes! Lembro dele quando pessoas morrem nas filas dos hospitais privados ou públicos. Lembro dele quando pessoas são discriminadas por sua cor de pele ou por sua opção sexual. Lembro dele e de todos que passaram pela minha vida pisoteados pela imposição de uma cultura civilizatória de mercantilização, que permite indignidades e crueldades em nome do capital. Hoje minhas lágrimas já não rolam tanto! Aprendi a conviver com essas desditas e faço de minha revolta um motor de combustão para minhas lutas. Tenho consciência de que não posso fazer mais do que já faço e não me culpo mais pela impotência do que não posso fazer. Faço das minhas palavras, da minha escrita e da minha ação militante um grito de denúncia e de indignação. A dor de minha impotência ainda arde, dói, entristece, mas, me faz mais forte a cada dia, me enche de sabedoria e ternura, me torna mais Humana do que já fui. Humanidade para um mundo mercantil é um gesto de rebeldia! Sou rebelde! Sou sim! E vou continuar sendo! Humanamente rebelde! Para você Gustavo e todas as crianças e jovens que vi morrer eu digo. PRESENTE! PRESENTES EM MINHA ALMA!

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