sábado, 26 de maio de 2012

SUBDESENVOLVIMENTO E REVOLUÇÃO

Recentemente recebi a notícia de que o Instituto de Estudos Latino-Americanos - IELA, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, irá editar a coleção Pátria Grande, Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano, que terá 40 volumes, todos editados pela Editora Insular, de Florianópolis. O primeiro volume dessa coleção será o livro “Subdesenvolvimento e Revolução”, do mineiro Ruy Mauro Marini, publicado originalmente no México em 1969. Aqui no Brasil essa obra foi marginalizada e combatida pelos representantes da ditadura militar e por representantes da hegemonia liberal, entre eles o professor sociólogo e político FHC, que fizeram de tudo para expurgar do país o pensamento de Marini. Por conta disso os livros dele foram editados em vários países do mundo, menos no Brasil. Fiquei feliz com essa iniciativa da UFSC, pois, há algum tempo queria ler essa obra. Agora, com certeza vou ter acesso a ela.  Mas, a minha alegria é ainda maior, quando vi a UFSC se embrenhar com seriedade nos estudos latino-americanos e que irá editar mais 39 obras, além da de Marini, sobre o pensamento reflexivo dos povos latino-americanos. Quando fiz meu mestrado na UFF, por iniciativa de uma de nossas professoras, fui pesquisar autores latino-americanos e me apaixonei pelo pensamento de Walter Mignolo, Enrique Dussel e Anibal Quijano, autores sul-americanos que as universidades brasileiras desconheciam e faziam questão de ignorar. Nasci em 1961 e fui para a escola pela primeira vez em 1967. Em todos os meus anos de escola até o segundo grau nunca tinha escutado falar da América do Sul, de nossos vizinhos sul-americanos. A história do Brasil, deturpada e invisibilizada na escola, a história da América Latina, totalmente proibida, desconhecida de todos nós, a história dos povos africanos, negada, subalternizada. Nos livros de história brasileiros o que nos era ensinado era a história dos colonizadores. A civilização européia e todos os seus conceitos de civilidade, educação, cultura, trabalho e vida cotidiana formou nosso pensamento, excluindo todo pensamento diferente e divergente que pudesse existir. Assim, nos formamos! Somos o efeito disso! Nossa política e nossa economia foram durante anos o resultado dessa lavagem cerebral. Faz muito pouco tempo, nosso povo tinha vergonha de ser brasileiro. Achávamos que tudo que vinha de fora era de melhor qualidade. Vivíamos de cabeças baixas, rezando para que o dia seguinte fosse melhor. E mesmo assim acreditávamos a partir das várias campanhas feitas pela elite brasileira que o Brasil era um país amistoso, de pessoas não violentas, que não tinha racismo, que não tinha guerras nem desastres naturais. Lembram disso? Quem nasceu na década de 60, 70 e 80 com certeza ouviu algumas dessas bobagens manipulatórias. Há, também diziam que éramos o país do futuro, apesar de estarmos o tempo todo atolados em nosso subdesenvolvimento. A partir de 2002 com a eleição de Lula da Silva renovamos nossa auto-estima e iniciamos uma verdadeira revolução. Em 10 anos houve uma mudança significativa na área social, nas relações de trabalho, na área econômica, na área política e na relações internacionais. O povo brasileiro está se passando a limpo! O que poderíamos esperar? Que todos nossos problemas fossem resolvidos? Problemas que vem desde nossa colonização? O clientelismo, a corrupção, a hipocrisia, o moralismo, a subalternidade são valores que importamos do colonialismo civilizatório que nos moldou. De onde veio a vontade de tirar vantagem de tudo? Será que ainda pensamos que esses valores nos pertencem? Na verdade nossa subjetvidade herdou essas porcarias civilizatórias da Europa e EUA. Não tivemos tempo nos últimos 500 anos de nos apropriarmos de nós mesmos, de nossa história, de nossa própria forma de pensar e agir, de nossa civilização pensada a partir de nossas necessidades, de nossa diversidade e não dos outros. A importância do que foi feito  nos últimos dez anos não pode ser desprezada. Somente agora temos a possibilidade de nos assumir e nos reiventar. A prova disso é a proximidade cada vez maior que estamos tendo com países da América do Sul e da África. Não podemos esquecer os processos de assunção de nossa verdadeira história, que estão sendo expostos, por exemplo, pela Comissão da Verdade. A edição do livro de Marini será um marco. Um marco patrocinado pela UFSC, mas, com certeza, irá influenciar outras universidades no sentido de buscarmos nossa própria identidade intelectual sem as injunções colonizatórias que até hoje sobrevivem em nosso mundo acadêmico. Talvez demore um pouco mais. Talvez leve um pouco menos para tirarmos o ranço eurocêntrico e liberal de nossas escolas. Talvez levemos mais duas ou três gerações para ter o Brasil que sonhamos! Mas, ele está a caminho... Mais do que qualquer coisa, precisamos extipar de nós a ganância e arrogância intelectual e cultural que aprendemos. Convoco todos os educadores a refletir sobre isso...

sábado, 12 de maio de 2012

SOBRE TRABALHADORES PARA ALÉM DO SEU DIA...

Não fiz nenhuma postagem no dia do trabalho. Esse ano, diferente dos demais, no dia do trabalho não pude ir a nenhuma manifestação sobre o dia. Choveu muito! Confesso que, o meu lado sensível e poético interpretou a chuva nesse dia. A natureza chorou no Rio de Janeiro em homenagem aos trabalhadores e trabalhadoras. Talvez porque aqui no Rio sejamos, como alguns dizem, o tambor de percussão para o resto do Brasil e assim, o céu resolveu mandar a chuva torrencial para mostrar sua indignação e apoiar todos nós. Sempre me pergunto o por quê comemoramos o dia do trabalhador... Não vejo o dia 1º de maio como um dia para comemorar. Procuro entender a razão de muitos sindicatos e de centrais sindicais para promoverem festas nesse dia. O dia a dia de um trabalhador é por vezes tão degradante e sofrido, que as festas são a única forma deles lavarem sua alma e se sentirem unidos e importantes. Muitas pessoas dos movimentos sociais não entendem a necessidade do lazer e do divertimento! Ela é necessária, principalmente no mundo de hoje tão marcado por relações artificiais! Nas festas as pessoas se relacionam, se conhecem e se abrem como não fazem em nenhum outro lugar. Mas, apesar de respeitar e entender, como já disse, me incomoda a comemoração. Vejo o dia do trabalhador e da trabalhadora como um dia para denunciar... Assim, escolhi mostrar aqui meus sentimentos de admiração e respeito pelos trabalhadores gaseiros (que trabalham nas empresas distribuidoras de botijões de gás), numa forma de purgar minha indignação e minha fome de transformação social. Fui visitar de perto a produção de uma dessas empresas e observando cuidadosamente o trabalho pesado, perigoso, meticuloso, cansativo e repetitivo imposto a eles, entendi de uma vez por todas a diferença entre CAPITAL X TRABALHO. Não há como pensar as condições de vida desses trabalhadores sem refletir sobre a subalternidade subjacente às suas condições de trabalho. As formas de trabalho refletem os padrões da colonialidade do poder e se subordinam a critérios periféricos, capitalistas e racistas. Assim, não é por acaso que o trabalhador gaseiro, em sua maioria é negro, em condições escolares deficientes e por isso mesmo submetido a formas de trabalho penosas. Vocês sabiam que 30% desses trabalhadores estão afastados pelo INSS com problemas da coluna, uma doença comum do trabalho deles? Sabiam que para o Ministério do Trabalho e para o INSS o problema de coluna deles não é reconhecido como doença funcional? Sabiam que no final de 10 anos de atividades a maioria desses trabalhadores já desenvolveu problemas de coluna? Em nosso mundo civilizado podemos viver sem o botijão de gás para cozinharmos nossa comida? No Brasil, não! A grande maioria dos brasileiros usa o gás para cozinhar. Mas, em que momento paramos para pensar nas pessoas que são responsáveis por esse gás chegar às nossas casas? Assim, pensei neles no dia dos trabalhadores e todos os dias no almoço e no jantar penso na gratidão que devemos aos trabalho deles. Da minha parte, como presidente do sindicato que os representa, penso que muito há que fazer para que suas condições de trabalho melhorem. A chuva no dia 1º de Maio me fez refletir e pensar na minha responsabilidade. Conto com a adesão deles para isso, mas, conto também com a consciência de cada um que ler essa postagem. O mundo civilizado que criamos é realmente civilizado? O que temos que fazer para tornar o trabalho fonte de prazer e alegria e não de doença ou de forma de subsistência? Reparto minha angústia com vocês...