sábado, 12 de maio de 2012

SOBRE TRABALHADORES PARA ALÉM DO SEU DIA...

Não fiz nenhuma postagem no dia do trabalho. Esse ano, diferente dos demais, no dia do trabalho não pude ir a nenhuma manifestação sobre o dia. Choveu muito! Confesso que, o meu lado sensível e poético interpretou a chuva nesse dia. A natureza chorou no Rio de Janeiro em homenagem aos trabalhadores e trabalhadoras. Talvez porque aqui no Rio sejamos, como alguns dizem, o tambor de percussão para o resto do Brasil e assim, o céu resolveu mandar a chuva torrencial para mostrar sua indignação e apoiar todos nós. Sempre me pergunto o por quê comemoramos o dia do trabalhador... Não vejo o dia 1º de maio como um dia para comemorar. Procuro entender a razão de muitos sindicatos e de centrais sindicais para promoverem festas nesse dia. O dia a dia de um trabalhador é por vezes tão degradante e sofrido, que as festas são a única forma deles lavarem sua alma e se sentirem unidos e importantes. Muitas pessoas dos movimentos sociais não entendem a necessidade do lazer e do divertimento! Ela é necessária, principalmente no mundo de hoje tão marcado por relações artificiais! Nas festas as pessoas se relacionam, se conhecem e se abrem como não fazem em nenhum outro lugar. Mas, apesar de respeitar e entender, como já disse, me incomoda a comemoração. Vejo o dia do trabalhador e da trabalhadora como um dia para denunciar... Assim, escolhi mostrar aqui meus sentimentos de admiração e respeito pelos trabalhadores gaseiros (que trabalham nas empresas distribuidoras de botijões de gás), numa forma de purgar minha indignação e minha fome de transformação social. Fui visitar de perto a produção de uma dessas empresas e observando cuidadosamente o trabalho pesado, perigoso, meticuloso, cansativo e repetitivo imposto a eles, entendi de uma vez por todas a diferença entre CAPITAL X TRABALHO. Não há como pensar as condições de vida desses trabalhadores sem refletir sobre a subalternidade subjacente às suas condições de trabalho. As formas de trabalho refletem os padrões da colonialidade do poder e se subordinam a critérios periféricos, capitalistas e racistas. Assim, não é por acaso que o trabalhador gaseiro, em sua maioria é negro, em condições escolares deficientes e por isso mesmo submetido a formas de trabalho penosas. Vocês sabiam que 30% desses trabalhadores estão afastados pelo INSS com problemas da coluna, uma doença comum do trabalho deles? Sabiam que para o Ministério do Trabalho e para o INSS o problema de coluna deles não é reconhecido como doença funcional? Sabiam que no final de 10 anos de atividades a maioria desses trabalhadores já desenvolveu problemas de coluna? Em nosso mundo civilizado podemos viver sem o botijão de gás para cozinharmos nossa comida? No Brasil, não! A grande maioria dos brasileiros usa o gás para cozinhar. Mas, em que momento paramos para pensar nas pessoas que são responsáveis por esse gás chegar às nossas casas? Assim, pensei neles no dia dos trabalhadores e todos os dias no almoço e no jantar penso na gratidão que devemos aos trabalho deles. Da minha parte, como presidente do sindicato que os representa, penso que muito há que fazer para que suas condições de trabalho melhorem. A chuva no dia 1º de Maio me fez refletir e pensar na minha responsabilidade. Conto com a adesão deles para isso, mas, conto também com a consciência de cada um que ler essa postagem. O mundo civilizado que criamos é realmente civilizado? O que temos que fazer para tornar o trabalho fonte de prazer e alegria e não de doença ou de forma de subsistência? Reparto minha angústia com vocês...

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