domingo, 2 de setembro de 2012

POLÍTICA, AMOR E REVOLUÇÃO

Pela primeira vez, depois de 51 anos de existência nesse mundo, desde sexta-feira estou sozinha em casa, sem a presença de filhos, netos, mãe, pai ou qualquer pessoa que tenha feito parte de minha vida todo esse tempo. Confesso, que tive um pouco de receio de como iria reagir... Ao longo dos anos minha vida sempre foi povoada de gente, as inúmeras gentes que fizeram parte do meu mundo... Um dia ainda escrevo sobre as histórias dessas gentes... Sim, durante 18 anos a casa onde morei em São Gonçalo/RJ vivia sempre cheia de pessoas, ora procurando abrigo para comer e dormir, ora querendo uma solução para seus problemas, ora buscando trabalho ou uma palavra amiga... Não tinha tempo para mim! Tinha que trabalhar, cuidar de quatro filhos, fazer faculdade, administrar o trabalho comunitário que eu e meu ex-companheiro fazíamos e isso trazia várias preocupações, ocupações e problemas. Tínhamos sonhos e os nossos sonhos atravessavam os sonhos de outras pessoas. Nossa casa era um entre e sai constante de crianças, jovens e mães exploradas e sofridas da comunidade. Meus filhos faziam parte disso, assistiam a tudo e ajudavam como podiam, na sua inocência infantil. É claro que isso contribuiu com sua educação de alguma forma. Naquele tempo eu não tinha tempo para pensar sobre aquelas experiências. Minha ida para a faculdade, acredito, foi, talvez, para preencher essa lacuna. E foi refletindo sobre isso que chego até o meu momento de hoje. A solidão de minha alma me transporta para além desse tempo! Consigo ver que toda minha trajetória até aqui continua se fazendo pelo sonho político de transformar o mundo, a realidade, a vida das pessoas... Agora com outro arcabouço de idéias e conhecimentos. Se antes tinha medo da solidão, agora ela está comigo! E ela não é bicho feio não! É necessária e importante para que possamos refletir e apreender a realidade e fazer de nossa prática, práxis. Temos que ter tempo para isso! Assim como temos que ter tempo para dançar, ouvir música, ler, brincar, namorar... O amor é uma força revolucionária que revigora, refrigera, energiza, dá força e poder. Quando Paulo Freire disse sua antológica frase: "Os homens aprendem em comunhão" ele se referia a amorosidade desse momento, único, verdadeiramente humano, de conexão das almas entre si. O verdadeiro revolucionário tem muito amor dentro de si e é essa força que, apesar de todos os impecilhos, agruras e até mesmo a solidão que possa ter em seu trabalho revolucionário o faz ir em frente. Minha solidão está me possibilitando coisas que antes não tinha... Apesar do meu estranhamento num primeiro momento, ela fez por mim algo que ninguém poderia fazer, me colocou de frente comigo mesma! Assim, pude ter a certeza maior do meu amor pela vida, pelo parceiro carinhoso e admirável que tenho hoje, pelo trabalho político e pelas diversas gentes que atravessam meu caminho e que ainda atravessarão, além dos meus filhos e netos. Política e revolução não se fazem sem amor! Hoje tenho certeza disso! Estou só e muito bem acompanhada!

2 comentários:

  1. Minha casa era uma praça, um comitê, o centro de visitas da família por causa da minha avó, matriarca discreta mas supermatriarca. Só fui começar a entender o que era sossego quando ela se foi, deixando uma lacuna mas também uma paz, e até os 22 anos dividi quarto com mãe, irmão e irmã. Tivemos que ir morar de aluguel pra conseguir uma casa mais dividida e conseguirmos expandir melhor nossas individualidades, e até hoje tenho traumas do momento anterior. Por mais que a troca com outras pessoas e gerações mais velhas tenha me enriquecido culturalmente, aprendi a valorizar demais a solidão e a privacidade, experiências que não tive nos meus anos de formação.

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    1. Atualmente valorizo as duas coisas, Luiz, cada uma no seu momento apropriado...

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