quarta-feira, 1 de maio de 2013

QUE ADULTOS QUEREMOS PARA O BRASIL?

No último final de semana estava só em casa. Sai para almoçar e fui ao shopping. Queria ver gente! Queria escutar as conversas e talvez, ir ao cinema. Depois de olhar os filmes e verificar que não havia algum que me agradasse ver, fui para a praça da alimentação. Almocei! Comprei amendoim e me sentei num banco para apreciar o alvoroço de pessoas encantadas com as possibilidades de consumir. Idosos, adultos, jovens e crianças... A diversão se transformou em "andar no shopping", "comer no shopping", "comprar no shopping". Pessoas passando de um lado e de outro. Um burburinho só. Comecei a prestar atenção aos brinquedos instalados no térreo. Tinha roda gigante e muitas outras coisas. Um pequeno parque de diversões divertia a garotada. No meio das várias crianças, de repente entraram três meninos lindos e alvissareiros. Corriam, pulavam, riam alto e criaram um alvoroço entre os pais das crianças. A reação de todos, pasmem, de quase todos foi um olhar de reprovação para os meninos com o gesto imediato das mulheres de prender suas bolsas junto a seu corpo. O medo e o horror se instalou em suas faces. Os três meninos sem notar os olhares raivosos para si continuaram sua aventura no meio das outras crianças, entre os brinquedos, rindo e gritando. Quase escutei as mentes daqueles adultos preconceituosos e cheios de ranço colonialista dizer: "Que meninos são esses, estranhos, bagunceiros, sem modos! Será que vão me assaltar?" A comoção tomou conta de mim! Que sociedade é essa que não se vê como produtora de preconceitos e injustiça? Que sociedade é essa que não se enxerga como reprodutora da própria violência que tem horror? Aqueles meninos deixaram claro para mim como pensa essa parcela da sociedade que se vê como superior e merecedora de privilégios. Não que eu não soubesse disso! Não que eu já não tivesse tido outros exemplos disso! Mas, ver os rostos contrariados de homens e mulheres que como pais e mães deveriam dar exemplos de humanidade a seus filhos, e ao contrário demonstravam cegueira total diante de crianças que queriam apenas brincar... Será que preciso dizer que esses meninos eram negros? Ou vocês já adivinharam? Seus familiares acompanhavam de longe a correria e as brincadeiras dos meninos. Teriam reparado na reação dos outros adultos? Não percebi nada. Mas, quando uma das mães de uma menina vestida igual a uma princesa, com vestido rodado balonê, que tinha acabado de sair da roda gigante, de forma impetuosa e arriscada esbarrou em um dos meninos, não teve jeito... Sua atitude mostrou a ferocidade de seu pensamento. Sem pedir desculpas, agarrou a filha e apesar dos prantos da garotinha pelo fato de estar sendo afastada dos brinquedos, a mãe levou-a embora. Uma mulher que parecia ser a mãe dos meninos baixou o olhar e a cabeça. Teria ela reparado assim como eu reparei no gesto daquela mulher? Minhas reflexões foram se expandindo e fiquei triste e amuada. O que os adultos fazem com suas crianças! Desde cedo lhes ensinam o preconceito, o medo, a discriminação, a violência... Em tempos como os atuais, não me admira que uma parcela da sociedade queira culpar as crianças por sua incompetência em protegê-las e educá-las. A defesa da maioridade penal feita por adultos que se consideram privilegiados e portanto, detentores de maiores direitos que o restante, em detrimento da maior parcela da população que até 2003 era totalmente esquecida é de uma perversidade total. São vários os tipos de violência a que as crianças são submetidas. Desde violência física até essa última forma de violência que eu relatei. Uma sociedade que não se pensa, não se reflete e não se recria é uma sociedade que está morrendo e se matando e ainda não se deu conta. Não acredito nisso! Apesar desses exemplos de crueldade social, acredito que estamos fazendo fermentar algo que sempre esteve potente em nosso povo, sua dignidade e humanidade. Hoje é dia do trabalhador e da trabalhadora no mundo todo! Aqui no Brasil alguns números forjados na luta pela igualdade econômica nos ajudam a comemorar. Segundo o IBGE, nos últimos 10 anos, o salário mínimo subiu 70% de 2003 a 2013. Era US$ 72,07 e hoje é US$ 338,00. Os empregados com carteira assinada, 39,7% em 2003, passaram a 49,2%. A parcela dos sem carteira diminuiu de 15,5% para 10,6%. O nº de mulheres com carteira assinada subiu de 37,7% para 41,3%, os negros ou pardos aumentaram de 41% para 46,1%. São números estimulantes! As estatísticas econômicas são encorajadoras! Mas, a cultura colonial de exploração, violação de direitos, violência e ódio social continuam fortes. "Que Brasil queremos deixar para nossas crianças?" Já ouvi e vi escrita essa pergunta tantas vezes, em tantos lugares... Ao invés disso, nós deveríamos nos perguntar. "Que adultos queremos deixar para o nosso Brasil?" Depende do nosso repensar, de nossa maturidade em assumir nossas limitações e nosso desejo de dar certo! Um Brasil mais confiante, mais justo, mais forte, mais humano e mais solidário só vai acontecer quando nós adultos tivermos consciência de nossa responsabilidade. As crianças desse país não merecem muitas das decisões que são tomadas pelo Governo, pelo Judiciário e por seus responsáveis legais. Mas, elas são crianças! Como podem se defender? Somos todos nós que temos que defendê-las. Para isso precisamos amadurecer. Maturidade social é que precisamos e o que nossas crianças desejam... Chega de irresponsabilidade! Se queremos melhores adultos no futuro temos que crescer rápido, agora! O discurso da maioridade penal é uma infantilidade social.

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